Bessa (Álbum)

Composto e gravado entre Agosto e Janeiro de 2021. Gravado, mixado e masterizado em home studio por Alexandre Paloschi. Arte da capa por Henrique Mangeon.

Formação

  • Alexandre Paloschi – Vocais, Guitarras, Sintetizador, Programação de bateria;
  • Henrique Paloschi – Baixo, Guitarras.

Músicas

  1. Marginalia
  2. Bessa
  3. Luz Negra
  4. Exuviae Persona
  5. Praia dos Corvos
  6. Em Nome do Homem
  7. Primitivos Padrões de Medo
  8. Legado

Letras

Marginalia (Instrumental)

Bessa

Cruza a estrada o homem morto
Olhos baços, cenho roto
Mira os cantos, sobressalto
Aguarda o brilho do tiro final.

Tradicional espiral de honra
Minucioso clamor dos mortos, troante

Deita de costas o troféu
Cano sobre a fronte
Camisa ao vento, amarelada
Memorial do sangue a recuperar

Tradicional espiral de honra
Minucioso clamor dos mortos, troante

Acaso alheio, ínfimo
Traz o odiado fardo
Gerações de sombras
Versões do mesmo fado

Bessa

Trinta dias, grande trégua concedida
Pago o sangue, tempo oco
Dezoito, abrilmorto
Não mais maio, nunca mais

Tradicional espiral de honra
Minucioso clamor dos mortos, troante

Acaso alheio, ínfimo
Traz o odiado fardo
Gerações de sombras
Versões do mesmo fado

Bessa

Luz Negra

Olho
Enquanto os cães
Devoram
Meus restos, molestos

Encaro
Suas línguas varrendo
Ligeiras
A carne de meus ossos

Fluo
Meu sangue inda quente
Gota a gota
Encharcando o chão

Assisto
A dança intensa
Da disputa
Pelos meus destroços

Choro as mil mordidas de bestas vis
Sofro a morte rota de meus feitos
Ergo os braços aos céus em luta
Espero uma resposta que não vem

Berro, e o colosso me dá as costas
Cerro meus olhos, sua imagem se esvai

Luz Negra (4x)

Conto
A multidão dos grãos
De poeira
Sob meus sapatos

Ouço
O lamento dos donos
De cetros
Embriagados em poder

Canto
Suas infindas derrotas
Em Sol se pondo
A conta gotas

Rio
Enquanto buscam
Na correnteza
O brilho negro dessa luz

Espero as mil mordidas de bestas vis
Choro a morte rota de meus feitos
Sofro, os braços aos céus em luta
Ergo uma pergunta que não sai

Berro, e o colosso me dá as costas
Cerro meus olhos, sua imagem se esvai

Luz Negra (4x)

Nada ao redor permanece
Desço cansado de meu pedestal
Ignoro o inscrito, ignoro a ruína
As areias planas, testemunhas
Silenciosas do meu pranto
Meço a imensidão sob meus pés

Exuviae Persona

No ventre, prepara a muda
Exuviae persona vive
Aos braços, o choro acolhe
Atrás do muro, se esvai

E o ódio esbarra no muro
E a prece ecoa no muro
E o sangue resvala "no" muro
E a exuvia abre

No leito, se apaga a força
E o cântico ressoa triste
Nas frestas brilham sombras
Pessoas e ecdises

E o ódio esbarra no muro
E a prece ecoa no muro
E o sangue resvala "no" muro
E a exuvia abre

Nestas paredes se abandonam
Tristes sinas e moléstias
As camisas sao deixadas (exuviae persona)
Junto às pessoas de exuvia (exuviae persona)

Exuviae persona 4x

E o odio esbarra no muro
E a prece ecoa no muro
E o sangue resvala "no" muro
E a exuvia abre

Praia dos Corvos

O Mar revolto
Que as luzes trazem
São os traços de O-fune-sama
Fardos
De produto e alma
Carregam aos ombros por toda a vida

TRAGA!

Dos corpos,
que na areia jazem
Fartam-se corvos de finita fome
E o mal,
que não lhes faz jus
No homem, se eterniza

E o sal, que acumula e estoca
Chama a providência enfim

O-Fune-Sama

Esta noite
Há de chegar
O inquieto ruir da subsistência
Há de ser,
aqui se fará
Ceifada a vida, cessada a fome

E o sal que acumula e estoca
Chama a providência enfim
E o sal que acumula e estoca
E o sal que acumula e estoca

Kura
Nos traga
Nos salva
Nos faça
Pura alma
Louve e traga
O-fune-sama

Em Nome do Homem

Deus está morto
De seu crânio aberto
fugiram faceiras
As paixões
que Pandora
Com enorme zelo
guardava para si

O canto de sereia
do povo lagarto
Promete um futuro
Inefável de belo

Leva-nos cada dia
Mais e mais perto
Do fio dos rochedos,
Do fundo do abismo

A Esfinge cansou de esperar
Na boca da estrada vazia
Que alguém lhe
Dirigisse a palavra

Deixou guardada no fundo
Da memória
A pergunta derradeira
Que sabia fatal

Passou a devorar qualquer um
Que findasse
O plano trajeto
Do caminho lotado

Em nome do homem
Quem vigia a hidra sem coleira?

O Chapeleiro subiu a toca
Do coelho
E por um momento
Sentiu-se em casa

Falou verdades
Confundiu as razões
De quem as tem
Em demasia

Mas saudou-se da Rainha de Copas
Era apenas uma a lhe pedir
A cabeça
Por qualquer indiscrição

Primitivos Padrões de Medo

Primitivos padrões de medo
A arte de produzir efeito sem causa

Legado

Que o mal triunfe,
A violência grasse,
A mentira distorça,
Mas não por meio de mim

Que a lei oprima,
A língua fira,
O bem escasseie,
Mas não por meio de mim

Que a pena corte
A espada separe
O riso esmoreça
Mas não por meio de mim

Seja este o meu lema
Seja este o meu legado

A violência não existe por si
Está sempre ligada à mentira
Quem tem a primeira por método
Recorre à segunda por princípio

Que o irmão traia
O filho mate
A mãe imole
Mas não por meio de mim

Que a fome ruja
O ombro ceda
O joelho dobre
Mas não por meio de mim

Que a lágrima caia
O gosto degrade
A velhice amargue
Mas não por meio de mim

Seja este o meu lema
Seja este o meu legado

Gradualmente, descortinou-se para mim que a linha que separa o bem do mal não passa por Estados, ou por entre classes, ou mesmo entre partidos políticos, mas por dentro de todo coração humano, e por todos os corações humanos. Essa linha muda. Dentro de nós, ela oscila com os anos. Mesmo em corações mergulhados no mal uma pequena barricada de bem resta. Mesmo no melhor dos corações resiste enraizado um enclave de mal. (Alexandre Soljenitsin; tradução de Alexandre Paloschi)

This article was updated on 06/09/2022